Bom dia pessoALL.
O tema do dia é Girona, cidade distante aproximadamente 100 km de Barcelona, mais ao norte, muito rica em arquitetura, cultura e lendas.....sim lendas.
Uma cidade muito linda e, de quebra, uma boa vista dos montes nevados dos Pirineus.
É a capital da província de mesmo nome, e ao final de 2012 chegava a quase cem mil habitantes.
Seu ícone é o "Bairro Velho", com alguns conjuntos arquitetônicos únicos na Europa.
Vamos dar uma espiadela:
Dentro da encruzilhada de ruelas medievais se destaca o bairro judeu
chamado El Call, onde vivia até o final do século XV uma pequena comunidade. É uma
das cidades medievais mais bem conservadas da Europa. Destaca-se o Centro Bonastruc
Ça Porta, a antiga sinagoga agora convertida em centro de estudos e Museu de História
Judaica.
Ao norte da cidade, fora dos muros, se encontrava o cemitério medieval judaico na
Montanha de Montjuïc, ou montanha dos judeus. Algumas lápides com caracteres
alfabéticos hebraicos são exibidos no museu, como a lápide de uma mulher, Estelina.
A tradução seria: "Este é o velório da honrada Estelina, ilustre esposa do
sereno Josef Bonastruc que tenha sua mansão nos Jardins do Éden.".
E muitas são as lendas de Girona e região.
Hoje, falarei de São Narciso...
São
incalculáveis os milagres atribuídos a São
Narciso. Quando o rei da França, Filipe el Ardit , entrou em nossas terras à
frente de um exército poderoso, protegido pelo apoio moral do Papa, arrasando e
queimando tudo chegou até Girona e a sitiou.
Esta situação de sítio foi muito
difícil de sustentar por parte dos gironeses e impossível de quebrado pelas
forças do nosso rei D. Pedro.
Mas é aqui, num bom dia, do túmulo de São Narciso,
fechada com uma pedra muito grande e muito pesada, saíram, ninguém sabe como e por onde , alguns
grandes bandos de moscas muito virulentas, que passaram por cima dos muros de
da cidade e se lançaram como lobos sobre os franceses, e quando os picavam,
provocavam um grande ardor e morriam de dor terrível.
Um enorme pânico tomou
conta do inimigo, e fugiram em desordem, novamente para a França.
Ao passarem
pelo Collado de Panissars, eles se encontraram com o rei Pedro e os seus homens,
que lhes deu batalha, a qual foi terrível, e os franceses morreram aos milhares,
incluindo seu rei.
Os poucos que permaneceram vivos fugiram para Paris,
carregando o corpo de seu rei.
Deste feito, São Narciso é considerado advogado
das moscas, e acredita-se que os dias que antecederam a festa em sua homenagem,
as moscas se tornam mais insistentes, irritantes e venenosas, como diz o ditado:
“Per Sant Narcís, cada mosca val per sis. Les mosques,
per Sant Narcís,
a cada picada en maten sis.”
“Por São
Narciso, cada mosca vale por seis. As moscas, por São Narciso, a cada picada,
matam seis.”
Acredita-se,
também, que por São Narciso elas voam para longe, e ninguém as vê até o ano
seguinte. Mas nem todas, sempre ficam algumas , se modo que possam atacar
novamente os Franceses em caso de nova ameaça.
As moscas
mortais que saíram do túmulo do santo causaram a morte de mais de mil soldados
e duzentos e quarenta cavalos.
Na Rua das
Moscas, em Girona, há uma mansão onde, segundo a tradição, viveu São Narciso.
Uma vez perseguido, pulou a janela e deixou na pedra, a sua pegada no sentido
inverso, para enganar os perseguidores, que acreditavam que pela janela tinha
entrado na casa e desaparecido, anulando deste ponto em diante sua perseguição.
Esta marca de um pé humano é conhecida por pegada de São Narciso.
Povos clássicos
ponderaram sobre essa pegada. O autor latino Luciano, em sua viagem imaginária,
fala sobre as pegadas de Hércules e Baco. Pelos autores da época, sabemos que
os primeiros cristãos, na França, também o adoravam.
Um ano, no
dia da festa de votos a São Narciso, um padeiro da que tinha sua padaria entre
a Praça Mercadal e a Praça Del Moli, na cidade de Girona, era cético e
descrente. A levedura se tornou sangue, e quanto mais misturava, para ver se
ele estava perdendo a cor, mais vermelho ficava. Ele percebeu foi punido pelo
santo, e assustado e arrependido, fechou o estabelecimento e foi se desculpar
com o santo na frente de sua tumba. Durante três dias não se atreveu a abrir a padaria,
onde depois encontrou as massas frescas e prontas para assar. São Narciso, da
mesma forma que lhe havia punido, o havia perdoado.
A irmandade
devota de São Narciso tinha um campo de macieiras numa estrada a caminho de
Banyoles, e toda a produção era destinada a ser abençoada e distribuída entre
os fiéis. Todos o respeitavam as maçãs com grande admiração e era considerado
um sacrilégio comê-las. Na véspera do dia da festa, uma coleta de doações para
arrecadar dinheiro e ajudar nas despesas. Em agradecimento à caridade recebida,
os irmãos distribuíam as maçãs abençoadas.
Estas maçãs
eram depositadas sobre o túmulo do santo durante toda a festa religiosa. Em
seguida, elas eram redistribuídas entre os fiéis. Atribuía-se a estas maçãs a
virtude da baixar o nível do rio, quando havia risco de inundações.
Acreditava-se que se você jogar uma
dessas maçãs, o nível da água cai rapidamente e o perigo é evitado. É muito
interessante notar que, na Roma antiga, quando subiam as águas do Tibre, para
torná-lo mais baixo eram jogados na água, em primeiro lugar, pessoas vivas,
escravos e prisioneiros de guerra, como um sacrifício oferecido ao espírito do
rio, que amainasse sua raiva e fosse gentil.
Mais tarde, os sacrifícios humanos
foram substituídos por bonecos feitos com massa de pão. A maçã é o símbolo da
geração, e em algumas mitologias, representa o homem. Lançar maçãs na água para
reduzir a fúria do rio pode ser a memória de um tempo que, como Roma, eram
lançados humanos.
Ainda hoje, “chefs”,
cozinheiros e funcionários de cozinha geralmente pedem proteção para São
Narciso, para que não ocorra a queda de moscas na comida!
Pelos quatro cantos da cidade, é possível ver imagens e referências à São Narciso e suas moscas.
Enfim queridos leitores, foi um passeio e tanto!
Até a próxima!